As palavras não têm sexo

 

Notebook da Profª: Reconhecendo as palavras - N

O Jornal do Commercio publicou uma excelente série de reportagens sobre a difícil situação dos travestis em nossa sociedade.

Participei da edição/revisão da série e, em determinado momento, me perguntaram qual era o gênero da palavra “travesti”.

Expliquei que “travesti” podia ser nome masculino ou feminino dependendo da pessoa a que se referisse.

Se fosse um homem travestido de mulher, seria “o travesti”; se fosse uma mulher travestida de homem, “a travesti”.

À informação acrescentei o fato de a palavra “travesti” ser um particípio de origem francesa, o mesmo que “travestido”.

E por essa razão a concordância lógica seria “o travesti Fulana”, “o travesti Beltrana”, “o travesti Sicrana”, equivalentes a “o (homem) travestido de Fulana”, “o (homem) travestido de Beltrana”, “o (homem) travestido de Sicrana”.

Posto isso, fui informado de que na série sairia “a travesti Fulana”, “a travesti Beltrana”, “a travesti Sicrana”, pois o movimento dos transgêneros faz questão do uso do artigo feminino antes da palavra “travesti” quando ela se refere a uma pessoa nascida homem que se veste de mulher.

Entendi as razões do jornal, órgão democrático que é, mas até hoje não entendi as dos travestis.

Para mim, essa história de “a travesti Fulana” não passa de uma idiossincrasia sem nenhum embasamento linguístico.

O que o pessoal do movimento dos transgêneros precisa saber é que as palavras não têm sexo, e sim gênero.

“Cônjuge”, por exemplo, é masculina, até mesmo quando se refere a uma mulher, como em “O prefeito presenteou seu cônjuge com um lindo par de brincos”.

Portanto, não existe nenhuma atitude discriminatória em “o travesti Fulana”, mas apenas um uso forçado pela lógica, pois, como dissemos, “Fulana” é um ser nascido homem e está travesti(do) de mulher.

Se existe algum problema, é com o uso da palavra “travesti”, que deixa explícito o fato de alguém estar vestido com uma roupa que não caracteriza seu sexo de nascença.

O resumo da história: quando nos referimos a uma pessoa nascida homem que se veste de mulher, o lógico é dizer “o travesti Fulana” e, se for uma mulher que se veste de homem, “a travesti Fulano”.

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